Poty: um artista, um legado

Quando acontece de um museu integrar ao seu acervo uma coleção inteira, como a de Poty Lazzarotto (Curitiba, 1924-1998), ícone incontestável da história da arte paranaense, isso reflete o compromisso da instituição não apenas em valorizar a arte local, embora Poty seja nacional, mas também em distinguir-se como instituição, enriquecendo ainda mais sua representatividade. É o que fez o Museu Oscar Niemeyer ao incorporar em seu acervo, no início de 2022, a coleção de 4.478 obras de Poty Lazzarotto.

Poty trilhou seu caminho a partir do desenho, aprofundando-se em seguida na gravura, da qual se tornou um mestre, sendo o criador do primeiro curso de gravura do Museu de Arte de São Paulo. Muito de sua produção é biográfica, indo de lembranças de menino em torno de trilhos e vagões de trem a registros de tipos curitibanos e dos cenários que habitam.

Poty é direto e sem rodeios em seus desenhos e gravuras. Foi com essa característica espontânea que ilustrou diversas obras da literatura brasileira, como Os sertões, de Euclides da Cunha, e Grande sertão: veredas, de Guimarães Rosa. Não poderia, também, ter deixado de dar a vida aos curitibanos controversos retratados nos contos de outro ícone paranaense, Dalton Trevisan.

Não bastasse sua presença na literatura, Poty deixou sua marca em toda Curitiba por meio de seus monumentos ou painéis de azulejo e de concreto aparente, prática que se iniciou com o painel Desenvolvimento histórico do Paraná, de 1953, na Praça 19 de Dezembro. Outros exemplos dessa produção são os painéis da travessa Nestor de Castro, nos quais ele mostra, de um lado, a cena de uma Curitiba que já não existe, e, do outro, a evolução da cidade, surgida em meio ao pinheiral, habitada por imigrantes e se destacando no campo do urbanismo.

A coleção doada ao Museu Oscar Niemeyer diz respeito a toda essa produção. Nela podemos encontrar originais tantas vezes reproduzidos em livros e outras publicações sobre o artista, tomamos contato com os desenhos realizados por ele em sua expedição ao Xingu, em 1967, e adentramos a intimidade de um Poty quase desconhecido. Ademais, ainda encontramos esboços, projetos e estudos, e podemos perceber a evolução do traço, desde a sua juventude até a maturidade. Dessa forma, a coleção constitui um verdadeiro material etnográfico sobre o artista.

Doada ao MON pela família de Poty Lazzarotto, a coleção também é formada, é claro, por obras consumadas, desenhos, xilogravuras, litogravuras, gravuras em metal, entalhes em madeira e blocos de concreto: milhares de peças que dão um testemunho claro da polivalência do artista.
Através de Poty, tomamos conhecimento da arte que se fez e se faz no Paraná. Preservar não apenas o legado desse artista, mas sua memória é antes de tudo um dever – tarefa assumida e adequadamente realizada, agora, pelo Museu Oscar Niemeyer.

Ricardo Freire, historiador

As obras da Coleção Poty Lazzarotto foram doadas ao MON, em 2021, por João Lazzarotto, irmão do artista.

Poty Lazzarotto

Jogadores no bar, 1991 | Gravura | Litogravura sobre papel, P.A | 36 x 29 cm

Poty Lazzarotto

Sem título, 1991 | Untitled, 1981 | Gravura | Litogravura sobre papel | 21 x 19.5 cm

Poty Lazzarotto

Homem a cavalo, 1989 | Gravura | Litogravura sobre papel, A.L, 4/4 | 26 x 19 cm

Poty Lazzarotto

Figura humana, 1989 | Gravura | Litogravura sobre papel | 26 x 19 cm

Poty Lazzarotto

Sem título, 12-1-1943 | Nanquim e aquarela sobre papel | 16.8 x 23.2 cm

Poty Lazzarotto

Sem título, 1942 | Nanquim e tinta permanente sobre papel | 21.9 x 30.3 cm

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