Museu Oscar Niemeyer recebe mostra do concretista Luiz Sacilotto
Nesta retrospectiva, mais de 100 obras serão expostas
O Museu Oscar Niemeyer (MON) apresenta a mostra “Audácia Concreta: as obras de Luiz Sacilotto”. Com curadoria de Claudinei Roberto da Silva, a mostra propõe uma retrospectiva do trabalho do artista, compostas entre 1949 até seu falecimento, em 2003, e ficará em cartaz do dia 30 de abril até 4 de outubro.
A coleção, com 134 obras, traz desde os primeiros trabalhos do artista até a série de colagens, produzida no período final de sua vida. A diretora-presidente do MON, Juliana Vosnika, diz que para o Museu Oscar Niemeyer é uma honra poder mostrar ao público a retrospectiva de Luiz Sacilotto. “É uma grande oportunidade para podermos acompanhar a rica trajetória deste expoente do concretismo brasileiro”.
O curador Claudinei Roberto da Silva aponta: “Esta é uma das exposições mais importantes acontecendo atualmente no Brasil e ser feita no MON é um privilégio, pois a obra de Niemeyer e a de Sacilotto amalgamam-se”, analisa.
Luiz Sacilotto (1924-2003) nasceu em Santo André, SP, em uma família de imigrantes italianos. Iniciou seus estudos na própria região e profissionalizou-se ao formar-se técnico em 1943. Transitou entre as artes e o ofício de forma linear e paralela.
Participou da exposição Ruptura, realizada no Museu de Arte Moderna de São Paulo em 1952, e foi um dos signatários do manifesto de mesmo nome, que marcou o início do movimento concretista brasileiro. Desde cedo seu currículo se construiu de forma coerente e invejável. Participou de seis Bienais de São Paulo: em 1951, 53, 55, 57, 61 e 67; da Bienal de Veneza em 1952; da Exposição Nacional de Arte Concreta em São Paulo em 1956 e no Rio de Janeiro em 1957; na Konkrete Kunst (exposição nacional de arte concreta em Zurique) em 1960. Trabalhou com um grande rigor formal sem renunciar à sensibilidade. Foi reconhecido pela crítica e pela classe artística, ganhou diversos prêmios, inclusive o de “Artista do ano”, pela Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA), em 2000. Luiz Sacilotto faleceu em 2003 no ABC Paulista onde sempre viveu.
O curador analisa o percurso do artista, “ainda que Sacilotto tenha se aproximado e interagido com o grupo de artistas Concretistas, ainda que tenha composto o manifesto Ruptura, sua arte expressa mais do que uma simples recusa da figuração, mais do que um apreço pela forma geométrica. Quando se olha para uma obra – ou uma série – de Sacilotto, estamos olhando para um processo de profunda elaboração cerebral, matemática, geométrica quase compulsiva, na qual o artista via movimentos, desdobramentos, jogos de cálculos que – hoje, décadas depois – são a base da programação computacional, do design gráfico, das artes digitais. Certamente não era apenas uma recusa da figuração que procurava Sacilotto”, afirma.
A existência de algo que possamos chamar de arte genuinamente brasileira esteve no centro de debates culturais que ganharam especial relevância entre os anos 1940 e 1970. Antes disso, porém, artistas e intelectuais envolvidos com a novidade doModernismo no Brasil, notadamente Mário de Andrade, reivindicavam um estatuto particular e original da arte produzida no país, quando procuraram introduzir uma temática nacional às artes a partir deelementos e referências europeus, referências, aliás, também presentes na obra dos Concretistas. Pode-se argumentar, no entanto, que tal preocupação já fazia parte de um repertório de ideias presentes ao pensamento daqueles que, na Academia de Belas Artes sob a proteção de Dom Pedro II, no segundo reinado, criaram ícones entronizados no imaginário pátrio através de pinturas históricas e de cunho alegórico. Alguns estudiosos da arte afirmam, ainda agora, que a arte brasileira só existe como “apêndice” da história da arte no Ocidente, outros, porém, revindicam a ela uma particularidade fácil de ser verificada – em qualquer dos casos a obra de Luiz Sacilotto (1924-2003) ocupa lugar central nesta história.
É significativo que o Museu Oscar Niemeyer realize em suas salas uma exposição que avalia, uma vez mais, o legado do mestre do Concretismo no Brasil (ou do Concretismo brasileiro?). O arquiteto que desenhou o museu que recebe seu nome foi, tanto quanto Luiz Sacilotto, um homem comprometido com os avanços da respectiva linguagem da qual se ocupa, pioneiro e desbravador. Há muita coisa em comum entre os dois grandes brasileiros, a mais evidente delas é que ambos estiveram envolvidos com a vanguarda do pensamento de seu tempo e participaram do entusiasmo que sugeria um Brasil protagonista em todos os setores da cena mundial.
Quando, em dezembro de 1952 é lançado o manifesto do Grupo Ruptura, do qual Sacilotto fez parte junto com Waldemar Cordeiro,Geraldo de Barros, Lothar Charroux, Anatol Wladyslaw, Kazmer Fejer e Leopoldo Haar, o terreno para grandes polêmicas estava aberto. A exposição que ensejou esse evento, realizado no Museu de Arte Moderna de São Paulo, permanece como um marco fundamental na arte brasileira. A mostra sucedeu, em um ano, a primeira Bienal Internacional de São Paulo da qual Luiz Sacilotto também participou.
A exposição que o Museu Oscar Niemeyer apresenta traz um panorama significativo da trajetória do artista, desenhos e pinturas da década de 1940 são preciosos documentos que atestam as mudanças que o trabalho do artista vai sofrendo, mudanças que comentam, à sua maneira, o contexto em que foram produzidas, e, principalmente, a audácia daquele que optou por elas. Audácia que não se deixa vencer pela debilidade física que o abate a partir de 1994 quando sofre um acidente vascular cerebral. São testemunhos emocionantes dessa fase final de sua produção as colagens de módulos que realiza com viniladesivo.
Luiz Sacilotto é um continente que está para ser desbravado, um artista que produziu uma obra onde estão amalgamados razão, disciplina, método e sensibilidade. Nele estas virtudes, razão e sensibilidade, são sinônimos de um trabalho que continua solicitando estudo e que muito engrandece a história do Brasil e sua arte.
Claudinei Roberto
Curador
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