Asia: the Land, the Men, the Gods

A aventura humana e a convivência com o estrangeiro, o diferente, assume formas diversas, seja um acercamento generoso e solidário, seja o afastamento xenófobo e preconceituoso. O tal equilíbrio do “caminho do meio”, que o Budismo prega, requer grande capacidade de compreensão com relação aos que não compartilham as nossas raízes, os nossos valores e a nossa história. 

O impulso hegemônico de um grupo sobre outro tem sido a tônica da curva das civilizações. Porém, essa curva é mutante. Só no século passado o planeta assistiu ao fim melancólico do império britânico, que reinara soberano sobre grande parte do mundo no século XIX; à divisão do planeta entre as duas superpotências nucleares – Estados Unidos e União Soviética; à dissolução desta última, em 1991, e à cristalização do poder dos Estados Unidos e dos valores do Ocidente planeta afora. Agora, a China emerge e disputa a liderança da geoeconomia. Quem será o próximo?

A luta pela descolonização ganhou força em escala mundial a partir da segunda metade do século passado. Se olharmos para o mapa-múndi ao final da Primeira Guerra Mundial, vamos verificar que os únicos países asiáticos que mantinham total independência eram o Império do Japão e o Reino do Sião, hoje Tailândia; os demais eram colônias ou vassalos das potências europeias e, no caso das Filipinas, dos Estados Unidos. Porém, antes de emergirem como elemento maior nas relações internacionais, essas ex-colônias tiveram que absorver o impacto e administrar o desafio da liberdade que tão traumaticamente alcançaram, sobretudo no que toca às fronteiras forjadas de forma artificial e arbitrária pelos colonizadores.

Já neste início de século, a emergência da Ásia nos obriga a conhecer as suas civilizações, a sua história e os seus valores, a fim de melhor convivermos com o planeta indissoluvelmente interconectado. Fica a pergunta: será, em última instância, que os valores ancestrais perdurarão numa Ásia cada vez mais imbricada com o Ocidente... e vice-versa? Quão “inegociáveis” são esses valores? A resposta é certamente difícil e nunca deixará de ser incompleta. Não obstante, essa equação precisa ser resolvida se quisermos encontrar um padrão razoável de convivência entre os indivíduos e os povos. 

Neste processo, talvez a melhor solução seja buscar entender o fenômeno sem parti pris, sem verdades absolutas, hierarquia de conceitos civilizatórios ou imposição de valores, abrindo-se espaço para o diálogo construtivo. Não é um projeto fácil, contaminado que está pela intransigência e pelo fanatismo dogmático. Daí a necessidade cada vez maior de buscarmos encontrar as raízes do problema, que, para mim, estão na impermeabilidade dos espíritos à convivência com a alteridade. É este, em suma, o objetivo da ala asiática do MON, renovada e voltada para as diversas interpretações do colonialismo no continente. 

FAUSTO GODOY // Curador da exposição e doador da coleção