Aos 44 anos, em uma Europa a buscar rumos, no final da Primeira Grande Guerra (1914-1918), o pintor inicia sua saga pela fabricação e distribuição de brinquedos desmontáveis de madeira, pintados. Era o início de um trajeto que percorreria por toda a vida. Fase em que ocorre a ruptura do artista com os postulados do Noucentisme, movimento nacionalista catalão com motivação política e cultural. A rejeição das pinturas de quatro dos cinco murais encomendados para o Palácio da Assembléia de Barcelona é um dos episódios que marca esse momento.
Posteriormente restaurados, os murais, realizados entre 1913 e 1916, foram encobertos por pinturas, ao gosto da burguesia que as patrocinava, enquanto o quinto permaneceu inconcluso, apenas esboçado. Antes, trabalhou com Gaudí na produção dos vitrais da Catedral de Palma de Mallorca e da Sagrada Família.
Convencido de ter encontrado uma criativa e, talvez, bem sucedida atividade, Torres Garcia apresenta seus brinquedos pela primeira vez em Barcelona, na exposição“Brinquedos de Arte”, em 1918. Assim apresentavam-se os novos produtos, na busca de comerciantes que os distribuíssem. Eram famosas as edições da “Exposição de Brinquedos e Artigos de Bazar”, na Universidade Industrial. A recepção foi muito boa, porém sem o retorno necessário.
Pressionado por sucessivas crises financeiras e tendo nos brinquedos o meio de sustento e expressão artística, Torres Garcia muda-se, com a família, treze vezes, entre 1916 e 1926. De Barcelona segue para os Estados Unidos, depois para a Itália, Sul da França, Paris e Madri; até retornar, em 1934, para Montevidéu, já aos 60 anos de idade. Por onde passou contou com a ajuda de inúmeros amigos, comerciantes, políticos, artistas e intelectuais. Seus brinquedos, desenhos, artigos, pinturas e conferências sobre arte chegama atrair a atenção de artistas de vanguarda, como Miró. Até constitui, em 1924, a Aladdin Companhia de Brinquedos, em Nova York, destruída por um incêndio no ano seguinte.
Mas, apesar dos brinquedos terem sido exportados para vários países e serem apreciados em toda a Europa como obras de arte, pela originalidade e linguagem estética, os negócios não prosperaram e a fabricação em grande escala é interrompida. A produção de brinquedos torna-se artesanal, apenas como auxílio financeiro, e a pintura volta a ser prioridade.
O período francês, a partir de 1926, é apontado como o mais rico artisticamente. Ele expõe em diferentes galerias, vende tudo o que produz, e sua arte começa a ser reconhecida. Em 1929, pinta as primeiras obras construtivas e, já em Madri, começa a desenvolver os conceitos do Universalismo Constructivo.
São esses brinquedos e desenhos do Universalismo de Torres Garcia que o Museu Oscar Niemeyer tem o orgulho de apresentar, pela primeira vez, no Brasil, na exposição “Joaquin Torres Garcia – Aladdin e Universalismo Constructivo”, também composta por pinturas do artista. As obras integram o acervo do Museu Torres Garcia, ao qual particularmente agradecemos, pela oportunidade de exibirmos tão significativo artista sul-americano, universal.